quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Viagem, Fatos e Reflexões I: A Natureza Espremida

Agora que voltei de viagem vou relatar alguns fatos e reflexões que aconteceram nesses dias longe de casa. Pretendo escrever coisas que foram marcantes para mim, mas que também pode e, em alguns casos, devem ser interessante para vocês, para meus amigos, conhecidos, seres humanos e similares.

“A natureza espremida” o primeiro título dessa série, tem à ver com a paisagem natural, a mata nativa do Rio Grande do Sul vista através dos viajantes da BR-290 (que liga Uruguaiana à Porto Alegre).

Eu gostaria de escrever sobre as belas paisagens que há ao longo do caminho, mas desta vez ao invés de viajar à noite com a lua me acompanhando eu viajei a luz do dia, vendo tudo, inclusive uma placa que, mais ou menos, na altura de Alegrete anunciava: “Bioma Pampa”. Infelizmente não há bioma pampa!

O que há são campos e campos de plantações de grãos (arroz na imensa maioria) e campos e campos para criação de animais (gado e ovelha quase que exclusivamente). Ainda tem a crescente plantação de eucalipto que consome muita água condenando a região à um imenso deserto. Todo o bioma pampa foi DESMATADO[!] para a implantação desses campos!

Todo? Bem na verdade, ainda há uma estreita faixa de mata nativa (por isso espremida) entre a estrada e a cerca onde começam os campos. E essa pequena parcela de mata ainda tem que resistir e se recuperar das queimadas frequentes que às perseguem, pois o nosso clima ainda faz com que em algumas épocas do ano essas parcelas de natureza fiquem secas expostas a um simples toco de cigarro jogado por algum viajante. 

Como resolver o problema de falta de bioma pampa e outros biomas pelo Rio Grande? É muito difícil mesmo responder essa pergunta, pois os donos destes campos são extremamente ricos. Quando vocês passearem pela BR-290 olhem para um lado da estrada até seus olhos não conseguirem enxergar mais nada e depois façam o mesmo para o outro lado da estrada. Multipliquem esse campo de visão por dois, ou até mais – lembrando que no pampa o campo de visão é muito maior, pois as terras são planas, sem serras ou montanhas. Pois é, todo esse território pode ser de um único dono, de uma única família, que tem poucos (e mal pagos) funcionários.

Alguém pode falar “mas estão produzindo nossos alimentos”. Negativo. Quase tudo que é produzido nesses campos que outrora foram mata vai para o exterior, encher a barriga de outros ricos cidadãos, gerando os lucros, a grana que os herdeiros dessas terras gastam em carrões, cervejas e advogados para sustentar o status que exibem no empório da XV.

Em todo o percurso a paisagem vai ser a mesma, um futuro deserto de campos ou plantações de eucalipto com uma estreita faixa de natureza que resiste até a estrada. (Com exceção alguns poucos trechos na região central, por volta de Caçapava do Sul, onde sabemos predomina a pequena agricultura, familiar – esta sim nos alimenta e gera empregos – e que onde os barões da economia exploram outras atividades que como a extração de calcário que, em uma vista apresada desconfiguram menos a natureza.)

Para finalizar, algum tempo atrás assisti no jornal local sobre ás caturritas (essas cocótas que você tem em casa e que ensinou a falar palavrões e a cantar o hino do seu time; bichinho que comprou de algum selvagem, incentivando essa brutalidade). A caça desse animal, também nativo do bioma pampa, estava liberada. Motivo: essas aves estavam devastando (comendo se alimentando) as plantações dos arrozeiros. Quer dizer, eles podem destruir o habitat das caturritas, mas as caturritas não podem interferir (resistir) na margem de lucros deles?

@koalhada

Um comentário:

  1. E por que não ter aqui na região, mas especificamente em Uruguaiana um Parque Estadual que preserve realmente o Bioma Pampa? Daqui a alguns anos, do jeito que vai a coisa, o parque seria um oásis no meio de um deserto criado pelo ser humano.

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